21 dias - 10.200 km - Brasil / Argentina / Chile / Peru / Bolívia / Paraguai


Viajantes e motocicletas:
Francisco - São Paulo/SP - Yamaha XTZ 1200 Super Tenéré - Ano 2011
Richard - Niterói/RJ - BMW GS 1100 - Ano 1998


 

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Partimos bem cedo, pois nosso objetivo no primeiro dia era rodar cerca de 1100 km rumo a Fóz do Iguaçu/PR. Ainda no estado de São Paulo o pedal de câmbio da V Strom se soltou, mas conseguimos dar um jeito para chegar até Palmital para que pudéssemos consertá-lo, soube depois que isso tem acontecido com as V Strom, e parece ser um problema fácil de ser resolvido, só que a Suzuki não o faz. Fizemos outra parada obrigatória, pois a bandeira do Brasil que o Richard carregava presa no bauleto se desprendeu e foi parar dentro do sistema de freio da BMW bloqueando as pastilhas, com isso tivemos que desmontar a pinça do freio traseiro. Em Londrina tivemos uma breve conversa com o Júlio Lima, o famoso capitão da lista V Strom. O Júlio foi muito simpático conosco e nos convidou pra almoçar, mas deixamos para uma próxima vez já que estávamos apressados para chegar a Fóz.

 

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Com Júlio Lima em Londrina

 

Assim como no estado de São Paulo, a paisagem do norte do Paraná é permeada pelas plantações de soja, cana-de-açúcar e café, além de pequenas criações de gado. Chegamos a Fóz e decidimos pernoitar em Puerto Iguazu, na Argentina, para podermos evitar a perda de tempo no dia seguinte com a aduana e imigração.

 

De Puerto Iguazu seguimos para Resistência, a pilotagem neste trecho é bem interessante, principalmente na parte inicial, até Posadas, há uma bela vegetação margeando a pista, no segundo trecho as retas tomam conta do trajeto. No norte da Argentina já se percebe a recuperação econômica do país, apesar de ainda rodarem alguns carros em péssimo estado de conservação, se pode notar maior número de carros novos na estrada e nas cidades.

 

Ficamos em um hotel no centro de Resistência, que nos pareceu uma cidade bem organizada, lá jantamos com o Carlos, um motociclista que voltava de San Pedro do Atacama com sua Black Bird, ele nos deu algumas dicas sobre o trajeto que íamos fazer, além de ter sido uma agradável presença no jantar.

 

Nosso objetivo no terceiro dia de viagem era rodar até Salta, porém, novamente adiantamos um pouco mais nosso roteiro e pernoitamos em San Salvador de Jujuy. A Ruta 16 é uma imensa reta, o calor é infernal e ainda há alguns trechos que estão sendo recapeados, num deles foi feito um desvio de terra, que por azar meu foi molhado pouco tempo antes de passarmos e num descuido fui ao chão, mas sem grandes conseqüências, só um pouco de barro na roupa e na moto e muito sarro do Richard.

 

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Ruta 16

 

De San Salvador de Jujuy seguimos para San Pedro de Atacama, no Chile. Foram cerca de 560 km das mais belas paisagens, o Paso de Jama me surpreendeu, pois na viagem que fiz ao Chile em 2006, fiquei impressionadíssimo com a travessia da cordilheira dos Andes pelo Paso Internacional via Mendoza, mas creio que a passagem pelo Jama é mais bonita e também mais "asfixiante", pois chegamos a uma altitude próxima dos 5000metros. Prevenimos-nos tomando uma pílula para diminuir os efeitos da altitude, mesmo assim, sentíamos dor de cabeça e ficávamos com tontura quando parávamos para tirar fotos, além do frio que pegou forte, a coisa não é brincadeira não.

 

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Paso de Jama

 

Chegamos a San Pedro de Atacama por volta da 18h00 e fomos procurar um lugar para ficar após fazermos os trâmites de imigração e aduana. Se o ditado que diz: “a primeira impressão é que fica” fosse verdadeiro, eu nunca mais retornaria a San Pedro, pois chegamos com um sol de rachar numa cidade digna dos filmes de faroeste, localizada num vale em pleno deserto do Atacama, o mais árido do mundo. Depois de nos acomodarmos num hotel fomos nos acostumando com o estilo da cidade e passamos a achá-la mais simpática. Nela há turistas do mundo inteiro e também me pareceu a capital "hiponga" do pacífico, há muita gente fazendo e vendendo artesanato.

 

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San Pedro de Atacama 

 

Logo após nos acomodarmos, aproveitamos para ir de moto visitar o Vale da Lua, que fica a 15 km de San Pedro e proporciona um belo espetáculo visual, com seu lindo pôr-do-sol.

 

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Vale de La Luna

 

No dia seguinte deixamos as motocicletas no hotel e fomos de van conhecer os famosos gêiseres El Tatio, que faz jus à fama, o fenômeno é muito bonito, além disso, há também uma piscina natural de água quente para quem tiver disposição, já que o frio é muito intenso.

 

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Gêiseres El Tatio - Deserto de Atacama

 

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Comunidade Machuca - Deserto de Atacama

 

Chegamos de volta dos gêiseres por volta das 13h00, almoçamos e metemos o pé, aliás, as motos na estrada e fomos dormir em Tocopilla, no litoral chileno. Eu e Richard ficamos de saco cheio das máquinas fotográficas que ficavam dando "pau" toda hora e compramos máquinas novas, eu comprei em Tocopilla e Richard em Iquique. Tínhamos informação que a Ruta 1 estava bloqueada em função do terremoto que houve em novembro de 2007, porém os bombeiros nos disseram que das 7h00 às 8h00 liberavam a passagem para veículos pequenos (carros e motos). Então, no dia seguinte seguimos por esta bela rodovia a beira mar, sem dúvida foi muito bom poder fazer este trecho, foram praticamente 120 km até Iquique em que pudemos desfrutar de belas paisagens e até fazer duas filmagens com as câmeras. De Iquique subimos até Pozo Almonte para pegar a Ruta 5 em direção a Arica, onde dormimos.

 

Acordamos cedo e partimos de Arica para fazer as aduanas chilena e peruana, os trâmites foram mais rápidos do que imaginávamos, em cerca de 1h30 fizemos já estávamos rodando em solo peruano. Apesar da nossa expectativa com relação à dificuldade para o Richard entrar no Peru somente com a identidade, pois estava sem passaporte, tudo transcorreu normalmente.

 

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Ruta 1 - Chile - Litoral chileno

 

Chegamos a Arequipa por volta das 17h00, horário local, 1 hora menos que no Chile e 2 horas menos que no Brasil no horário de verão. Logo que chegamos fomos "cambiar el aceite" das motos e em seguida encontrar um hotel. Esta cidade, aliás, a cidade de Tacna também, parece uma babilônia, o trânsito é caótico, tem poucos faróis, os motoristas buzinam o tempo todo, os guardas de trânsito ficam apitando, é uma loucura só, depois a gente reclama do trânsito de São Paulo.

 

A respeito do norte do Chile e sul do Peru (litoral), creio que a experiência "in loco" pode dizer mais do que qualquer conhecimento teórico sobre a região, pois até aquele momento tínhamos rodado mais de 2000 km por um deserto interminável e seco, com imagens que impressionam e nos tornam pequenos diante da grandeza da natureza, convivemos durante um pequeno tempo com a aridez desta região e com os fortes ventos que insistiam em nos tirar da estrada, sem sucesso, pelo menos até aquele momento. Passamos por povoados que devem ser elevados à condição de "heróis da resistência", pois ficamos imaginando como conseguem sobreviver em tais locais.

 

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Fronteira Peru- Chile

 

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Plaza de Armas - Arequipa - Peru - Chile

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Deserto de Atacama

 

Saímos um pouco tarde de Arequipa e, apesar de ser sábado, o trânsito já estava uma maluquice, do jeito que comentei anteriormente. Para piorar, tivemos alguns "probleminhas" com os guardas de trânsito, mas nada que não pudesse ser resolvido com a tal “colaboración”. Após cerca de 100 km, novamente retomamos a Transamericana, via costeira do pacífico, nesse trecho até Nazca há pouco trânsito e um visual incrível, variando longas retas com curvas bem fechadas em "U", a pilotagem nesta região foi bem mais interessante que os trechos que tivemos desde Iquique. Enfim, chegamos a Nazca depois de rodarmos aproximadamente 600 km.

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Panamericana - Peru

 

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Panamericana - Peru

 

É pessoal, ainda descobrirei a grafia correta, pois quando estava planejando a viagem, havia vários lugares em que o nome da cidade de “Naszca” era escrito com "Z" e outros que eram escritos com "S", pra complicar ainda mais, na entrada da cidade tem duas placas, uma próxima da outra, uma com "Z" e outra com "S"...vai saber...

 

No dia seguinte pela manhã fui fazer o vôo que permite ver e fotografar as famosas linhas de Nazca, o Richard preferiu não ir, acho que é porque ele tem uma teoria pessoal a respeito das tais linhas...hehehe...Enfim, não há ninguém que saiba ao certo como foram feitas e o que significam, mas existem algumas teorias a respeito, uma delas é que seria um calendário agrícola construído a cerca de 1600 anos pela civilização que habitava a região no passado. Bem, talvez o mistério é que tenha atraído tanta gente para lá, o que acho interessante mesmo é poder vê-las lá do alto e imaginar uma teoria própria para seu surgimento e significado.

 

Depois do almoço fomos visitar o Cemitério Chauchilla, que foi descoberto no início da década de 40 e faz parte da cultura Nazca, povo que habitou esta região até o ano 1100 D.C. e foi conquistado pelo império Inca. Os estudiosos indicam que o processo de realização do funeral se desenvolvia com base na crença na reencarnação, por isso os Nazcas eram enterrados na posição fetal, para que pudessem "nascer" novamente, juntamente com o morto seguiam seus pertences pessoais e até mesmo animais de estimação. A aridez do deserto e sua conseqüente ausência de umidade permitiram que partes dos restos mortais não se deteriorassem durante centenas de anos. Os blocos que formam as paredes das tumbas são feitos de abobe e são originais da época. É uma pena que ainda hoje há pessoas que violam as tumbas a procura de objetos valiosos. Em seguida fomos a uma oficina de artesanato que reproduz, sem os ferramentais e materiais modernos, a confecção de peças de cerâmica daquela época, pois esta era a especialidade dos Nazcas. Também visitamos uma oficina que processa a extração de ouro de maneira bem rudimentar, ouro este retirado de rochas da região.

 

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Geóglifos - Linhas de Nazca

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Cemitério Chauchilla - Nazca

 

Rodamos cerca de 700 km para chegar a Cuzco, foram intensas variações de estrada e de clima. Saímos bem cedo de Nazca, que possui um clima árido e quente, e pegamos a estrada em que se manteve a paisagem do deserto durante alguns kilômetros para então se iniciar a mudança, com alguma vegetação e frio. Nessa estrada há momentos em que chegamos a altitude próxima de 4500 metros, com frio intenso, para rapidamente cair para cerca de 2500 metros, nos trechos de altitude menor pudemos rodar por vales extremamente belos e clima ameno. Houve locais em que tínhamos ótimo asfalto e outros totalmente esburacados, principalmente nas proximidades de Puquio e Abancay. Os pueblos pelos quais passamos mantém a impressão que tivemos das comunidades do deserto, com muita pobreza e carência de organização social.

 

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Estrada Nazca - Cuzco

 

Chegamos a Cuzco no início da noite e a primeira impressão foi a que tivemos em outras cidades do Peru, ou seja, confusão total, pois continuávamos não entendendo o trânsito e as coisas ficavam ainda mais difíceis quando anoitecia. Apesar disso, íamos pegando o jeito de como viajar pelo Peru, a primeira coisa que se deve fazer quando chegar a uma cidade um pouco maior é procurar a Plaza de Armas, é lá que tudo acontece, em Cuzco não é diferente.

 

Cuzco foi a capital do império Inca e possuiu cerca de 150 mil habitantes em seu apogeu, hoje tem cerca de 350 mil habitantes. A cidade conta com um centro histórico de rara beleza e a Plaza de Armas, como não poderia deixar de ser, é o centro de tudo, ali, ou próximo, estão todas as agências de turismo, restaurantes, casas de câmbio e principais construções que remetem ao reinado Inca ou à arquitetura espanhola que se impôs após a conquista que aconteceu no ano 1.538.

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Cuzco - Plaza de Armas

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Ruinas de Sacsaywaman - Cuzco

 

Estávamos muito cansados no dia em que chegamos e preferimos não fazer o passeio pelo Vale Sagrado no dia seguinte, optamos por fazer uma city tour na parte da tarde. Então fomos visitar alguns sítios arqueológicos ao redor de Cuzco, são eles: Saqsaywaman, Q`enqo, Pukapukara e Tambomachay. Como tudo que remete ao reinado incaico, estes locais também nos levam à reflexão sobre a grande capacidade intelectual e dedicação religiosa desde povo que habitou grande parte da América do Sul, desde a Argentina até a Colômbia, e que chegou a 16 milhões de habitantes.

 

Visitar Machu Picchu é bem mais comum do que a gente imagina atualmente, mas pra mim se trata de uma verdadeira conquista, pois sempre me interessei por assuntos ligados à história dos povos sul-americanos e Machu Picchu tem uma participação efetiva nessa história, principalmente com relação aos povos andinos.

 

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Machu Picchu

 

Segundo informações dos estudiosos, esta cidadela foi construída a partir do ano 1440 e abandonada por volta de 1555, ou seja, Machu Picchu não foi conquistada pelos espanhóis. Sua população era composta de mais ou menos 500 "eleitos" pelo reinado Inca, pois ao que tudo indica, era um local de observação astronômica com objetivo de auxiliar na cultura agrícola e, além disso, havia aspectos geossacros que impulsionaram a construção deste local. O arqueólogo americano Hiram Bingham descobriu o local em 1911, mas dados históricos indicam que ele não foi o primeiro a passar por ali, os campesinos que habitavam a região já conheciam o local, haja vista que foi um deles que guiou Bingham a Machu Picchu, além disso, alguns caçadores de tesouros estiveram lá alguns anos antes, porém, sem dar-lhe o devido valor histórico. Sua descoberta se deu após cerca de 400 anos de abandono e a partir disso se iniciou a divulgação da sua história e consequentemente o aumento do turismo para lá.

 

Machu Picchu significa "montaña vieja" e a imagem mais tradicional que vemos em todas as divulgações não correspondem à verdadeira Machu Picchu, na verdade esta denominação foi uma conveniência que não se sabe ao certo de onde surgiu, a nome correto da montanha que vemos nas tradicionais fotos é Wayna Picchu, ou seja, "montaña nueva".

 

O que acho mais espetacular em Machu Picchu é ficar imaginando a dinâmica social que havia no povoado, pois é certo que havia uma organização em que todos tinham seus papéis, além disso, não dá pra ficar alheio à angústia gerada por tentar imaginar o quanto seríamos pequenos intelectualmente se viéssemos a ter uma conversa com um desses mestres que construíram a cidadela. Alguém me disse um dia que conhecimento intelectual e sabedoria são coisas diferentes, em momentos como este, no encontro com Machu Picchu, é que posso perceber que há muita verdade neste pensamento, pois na cidade há verdadeiros monumentos que atestam a perspicácia dos observadores mais atentos, mas, além de tudo, daqueles que conseguem colocar a intectualidade a serviço da comunidade, e foi isso que os mestres que por lá habitavam fizeram, isto é sabedoria.

 

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Machu Picchu

 

Puno é mais uma cidade caótica do Peru, novamente foi aquele sufoco quando chegamos em meio ao trânsito maluco de lá. Enfim, conseguimos arrumar um hotel um pouco afastado da famosa Plaza de Armas e mais próximo do porto no Lago Titicaca. No dia seguinte o Richard preferiu conhecer somente a Ilhas Flutuantes dos Uros, eu fiz um passeio para a Ilha de Taquile, além de visitar as Ilhas Flutuantes.

 

Titicaca significa Puma cinza ou Puma de pedra no idioma Quechua. O Lago fica a 3.809 metros de altitude, possui superfície de 8.560 kilômetros quadrados e tem uma profundidade máxima aproximada de 274 metros.

 

As ilhas flutuantes são construídas de uma fibra chamada totora para os peruanos, para nós o nome é junco. A cada momento diminui mais a quantidade de pessoas que vivem nessas ilhas, já que os mais jovens que têm contato com as "facilidades" modernas, no caso deles em Puno, cidade próxima de onde estão localizadas as ilhas, dificilmente aceitam continuam vivendo num local onde não têm energia elétrica, internet e outros atrativos da vida moderna. Não falarei muito a respeito da Ilha de Taquile, já que minha percepção é que é mais um daqueles passeios para turistas, sem nenhum grande atrativo, com objetivo de vender a cultura e o artesanato local.

 

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Lago Titicaca

 

De Puno seguimos para Desaguadero, na fronteira Peru/Bolívia. No caminho enfrentamos forte chuva e frio intenso e pegamos um trecho com gelo na pista, só não tivemos disposição para parar as motos e fotografar. Na fronteira nenhuma novidade, é aquela desorganização, tanto do lado peruano quanto do lado boliviano, além das "contribuições" solicitadas na maior cara de pau.

 

Depois de fazermos os trâmites, seguimos em direção a La Paz preocupados para não entrarmos na capital boliviana, já que nosso humor mudava só de pensar em enfrentar o trânsito caótico de outra cidade grande. Então, ao chegar a El Alto, seguimos para Oruro com objetivo de chegar a Potosi e dali seguir para Villazón/La Quiaca. No meio do caminho, ao pararmos para almoçar, encontramos com um motociclista boliviano chamado Juan Carlos que mora em Cochabamba e tinha ido a La Paz entregar um equipamento que havia consertado e voltava pra casa. Na conversa que tivemos no restaurante, pouco antes de Oruro, ele nos aconselhou a seguirmos por Cochabamba, Santa Cruz de la Sierra e dali para Yacuiba, para cruzar a fronteira com a Argentina, pois tinha informações que as chuvas deixaram a estrada de Potosi a Villazón em péssimo estado. A decisão foi acertada, pois as estradas que pegamos apresentavam boas condições, apenas alguns trechos entre Cochabamba e Santa Cruz estavam precários e atrasaram um pouco a viagem, no restante foi possível manter bom ritmo de velocidade.

 

O Juan Carlos foi muito gentil conosco, nos acompanhou até o hotel e nos convidou para jantar com ele e sua esposa na noite em que dormimos por lá. No dia seguinte fez questão de vir até o hotel para que seus filhos conhecessem a V Strom e a BMW e nos guiar até a saída da cidade em direção à Santa Cruz.

 

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Richard e Juan Carlos

 

A estrada de Cochabamba para Santa Cruz de la Sierra tem um trecho que exige bastante cuidado na pilotagem, pois apresenta curvas bem acentuadas e trechos sem pavimentação, mas nada que atrapalhe o andamento da viagem. Em Montero, cidade antes de Santa Cruz, avistamos um motociclista com uma Kawasaki Vulcan 1500cc e pedimos informações sobre como seguir para Yacuiba sem passar por dentro de Santa Cruz, mais uma vez tivemos sorte e o Dario nos acompanhou desde Montero até a saída para estrada que segue até Yacuiba. No caminho, dormimos em Camiri, uma pequena cidade do interior da Bolívia, mas que nos permitiu o merecido descanso depois de cerca de 800 km rodados. No dia seguinte seguimos até Yacuiba (BO) e Professor Salvador Mazza (AR), ali há aduana e imigração compartilhada e os trâmites até que foram rápidos, apenas tivemos uma discussão com o pessoal da aduana argentina que insistia em não nos dar nenhum comprovante da entrada das motos em seu território, justificando que se tratava de Mercosul, no final conseguimos levar um papelzinho carimbado e assinado que não nos serviu para nada na saída da Argentina e entrada no Paraguai.

 

A Estrada de Santa Cruz até Yacuiba é muito boa e creio que seja uma boa alternativa para quem quer rodar pela Bolívia, mas não que enfrentar as agruras e incertezas das estradas de terra por lá. Ao entrar na Argentina, logo fomos parados por um grupo de policiais que estavam mais afim de perguntar sobre a viagem do que fiscalizar, ao comentarmos que pretendíamos seguir para Resistência/Corrientes via Ruta 16, nos aconselharam a seguir pela Ruta 81 até Formosa e de lá poderíamos decidir se continuaríamos a viagem pela Argentina até Puerto Iguazu/Fóz ou se iríamos para Assunción para cruzarmos o Paraguai até Ciudad del Este/Fóz.

 

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Chaco boliviano

 

Decidimos cruzar o Paraguai ao chegarmos a Formosa. A decisão parecia acertada, já que conseguiríamos dar uma adiantada na viagem e também pela aduana que foi extremamente rápida. Pois bem, a coisa ficou complicada, a primeira chateação foi que a sinalização da estrada é péssima e acabamos caindo dentro de Assunción, num calor acima dos 40 graus e pra piorar as pessoas só davam informações confusas, após muitas tentativas conseguimos sair da cidade em direção a Ciudad del Este.

 

O Paraguai me parece um país de uma única rodovia (Assunción-Ciudad del Este), assim, os policiais ficam todos concentrados em cerca de 400 km. Fomos parados diversas vezes e tratados com arrogância, em uma delas o policial encrencou com a papeleta de imigração do Richard, dizendo que não estava preenchida corretamente e que teria que voltar na fronteira para acertar o problema, pura invenção, tudo isso foi motivo para nos tirar dinheiro. Seguimos em frente após "resolvermos" a situação, mas não é que a 2 km adiante fomos parados novamente com alegação de excesso de velocidade, o estranho é que ainda não tínhamos conseguido nem colocar a 3ª marcha na moto, mais uma vez tivemos que "resolver" a situação. Não tenho nada contra o povo paraguaio, mas pela polícia que possuem, meu conselho é que evitem passar por este país quando estiverem viajando de carro ou de motocicleta.

 

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Bienvenidos al Paraguay...Será?

 

A chegada à fronteira em Ciudad del Este depois de todo o stress com a polícia caminera paraguaia também não foi nas melhores condições, tanto é que o Richard nem fez sua saída na imigração paraguaia, eu ainda consegui retornar antes de entrar na tal ponte da amizade e carimbar meu passaporte, a aduana ficou pra lá. Após a saga paraguaia, tivemos uma boa noite de sono em Fóz do Iguaçu.

 

No dia seguinte, fomos visitar as Cataratas no período da manhã. A organização deste parque é de primeiro mundo, tudo muito bem arrumado, muitas informações e conservação impecável. A beleza natural deste local descoberto por exploradores espanhóis por volta do ano 1500 é impressionante, há turistas do mundo inteiro que vêm à procura deste patrimônio natural da humanidade, sem dúvida é um passeio que recomendo a todos. No período da tarde fui tratar de dar uma "garibada" na moto na concessionária Suzuki de Fóz e o Richard ainda foi fazer dois passeios, um pelo parque das aves e outro de barco.

 

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A beleza da cataratas - Fóz do Iguaçú

 

Pernoitamos em Ourinhos/SP após rodarmos cerca de 700 km desde Fóz do Iguaçu, de lá, no dia seguinte, seguimos para a São Paulo e chegamos na capital paulista por volta das 14h00 do dia 22.02.08. O Richard ainda levou a GS para uma revisão na autorizada em São Paulo no dia seguinte e seguiu viagem para o Niterói/RJ no dia 24.02.08.

 

Ao retornar pra casa fico sempre com dois sentimentos: um de tristeza por ter acabado a viagem e outro de alegria por poder retornar bem e reencontrar minha família. Agradeço ao grande Pai pela proteção em mais de 10.000 km rodados em 21 dias e a todos pelos carinho e apoio, especialmente à minha esposa Márcia e meus queridos filhos Gabriel e Murilo.

 

Ao Richard digo o seguinte: apesar da pouca convivência que tivemos durante tantos anos, você foi um grande companheiro meu velho, tenho certeza de que esta viagem foi enriquecida pela sua presença.

 

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Eu, entre meus filhos Murilo e Gabriel, e Richard


 

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